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Canalização de significados


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Os programas televisivos, aos quais somos expostos, são o produto de um longo e minucioso trabalho, por isso não podemos encará-los como algo linear.

Filipa Reis O processo de pós-produção é extremamente importante e reflecte as intenções de editores, directores e dos próprios grupos empresariais, veiculando ?mensagens subliminares? que levam o espectador a alterar a sua interpretação das imagens.
Isto acontece em qualquer produtora, da mais antiga à ainda praticamente desconhecida, como a EsecTV: um projecto nascido da vontade de criar um espaço profissional, dentro da Escola Superior de Educação de Coimbra. A sua viabilização ficou a dever-se ao professor Francisco Amaral que, no âmbito da ?Capital Nacional da Cultura ? Coimbra?, dinamizou o projecto desde Março de 2003 e conseguiu a sua continuação, através da aprovação do IFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional). Apesar de se encontrar inserida num ambiente escolar, à EsecTV não falta profissionalismo. Assemelha-se a qualquer empresa da área e utiliza todas as técnicas existentes a nível de edição e montagem; como a edição não-linear, um processo moderno e computadorizado de edição, que facilita a pós-produção.
Na produtora, há que ter sempre presente a importância que as imagens, a sua escolha, a sua ordem, têm para a audiência e a necessidade de fazer com que ela compreenda a história. A ordem dos planos é escolhida com este intuito; o receptor percebe a intenção geral da peça, uma vez que a sequência de imagens é decidida com esse objectivo. Se esta fosse outra, a interpretação retirada poderia ser completamente diferente. Por vezes, as imagens recolhidas durante a fase de produção não serão facilmente descodificadas, o que leva à inserção de elementos que revelem e/ou reforcem o seu significado ou que façam a ligação cognitiva entre elas. É o caso de fotografias, mapas, extractos de jornais,... A introdução do signo textual (oráculos, por exemplo) pretende complementar a imagem, permitindo a sua compreensão e o cumprimento da necessidade humana de ?rotular? as informações novas, de modo a organizá-las cognitivamente.
Um dos principais elementos de influência do telespectador é o corte: passagem de um plano para o outro sem efeitos, que delimita as suas durações e dinamiza as cenas, evitado o cansaço do receptor e aumentando as audiências. Fazem-se opções, mostrando apenas o que interessa mais ao público, prevenindo a sua saturação, de forma a não perder a sua atenção para com o produto. Assim, baixa-se continuamente o nível cultural da programação, tratando o espectador com condescendência, enquanto que ele se deixa acomodar. Efectuar estes cortes não é simples; é necessário saber quais são os elementos que influenciam a visão do receptor. Os planos são cortados, tendo em conta o efeito visual que isso irá ter para a audiência; assim como, os movimentos de câmaras são executados, consoante o que se pretende transmitir. O estudo dos factores que desencadeiam determinadas reacções (como a aceitação, no caso de movimentos agradáveis ou o choque visual) é adaptado às intenções dos editores, orientando as suas escolhas.
A ligação de planos também pode ser efectuada pela aplicação de um efeito de transição como os fades, o cross-dissolve ou as cortinas. Estes são mais estimulantes do que o corte e têm a função, entre outras, de indicar a passagem de tempo. O efeito visual é adicionado artificialmente, com a intenção de induzir o público a interpretá-lo de uma certa forma. Pode dizer-se que funciona como um signo (símbolo), ao qual o telespectador atribui significado.
O som constitui uma parte importantíssima na atribuição de sentido às imagens. As vozes,as músicas e os efeitos sonoros, que constituem a banda sonora de um trabalho, são escolhidos de acordo como sentimento que se pretende que a imagem transmita ao receptor. A imagem pode ter várias interpretações portanto, juntando uma determinada trilha sonora a uma determinada imagem, leva-se o espectador a excluir alguns significados, escolhendo apenas aquele que a banda sonora ajuda a veicular. Acontece, por exemplo, quando temos um plano em que um indivíduo chora, o que pode ter inúmeros sentidos; no entanto, se for acompanhado de música que induza à alegria, a audiência deduz, imediatamente, que ele está a chorar de felicidade; se for acompanhado de música triste, o efeito é pensar que ele está realmente infeliz. Então, o receptor atribui diferentes significados ao mesmo significante, influenciado pelo som.
É possível dizer que tudo isto (e mais) é tido em conta em qualquer trabalho televisivo. Os profissionais da área têm de estar sempre ?um passo à frente?, procurando a melhor e a mais subtil forma de influenciar o público, segundo os desejos dos seus superiores. Se isto não for tido em conta, as consequências poderão ser desastrosas.


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