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O Eu Virtual
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«A tecnologia catalisa alterações não só naquilo que fazemos, mas também na forma como pensamos. Modifica a percepção que as pessoas têm de si mesmas, umas das outras, e da sua relação com o mundo. (?) Em que espécie de pessoas estamos a transformar-nos?»<1> O desenvolvimento e a globalização das novas tecnologias da informação e da comunicação provocou uma profunda mudança nas relações humanas e na estrutura das comunidades sociais. O facto de, através da internet, termos à nossa disposição um leque quase infinito de informação e de podermos estar em contacto com pessoas de qualquer canto do mundo, sem existência de barreiras espácio-temporais, permitiu uma nova concepção do ?eu? e da sua realidade social. No ciber-espaço não existe apenas troca de informação: a interacção entre os sujeitos permite a existência de comunicação e a construção de relações sociais, de tal forma que se chegam a formar autênticas comunidades socio-virtuais, onde existe partilha, participação, associação, afirmação e sentimento de pertença. Portanto, quando alguém está online não se encontra isolado mas, na verdade, continua inserido numa comunidade na qual a existência de normas e regras é igualmente uma constante mas onde existe um menor controlo social. No entanto, estas ciber-comunidades, dada a sua especificidade, possuem características invulgares relativamente às comunidades não virtuais. Uma das mais evidentes é a diversidade cultural no que diz respeito aos membros que a constituem: ?nos chats é possível encontrar indivíduos das mais variadas origens, classes sociais, crenças, valores, experiências e percursos de vida distintos. No mundo real, poucas vezes presenciamos a tal encontro.?<2>. Uma questão pertinente neste contexto é quem é este ?eu? que está online, qual é a sua identidade. O ?eu real? não tem de ser necessariamente igual ao ?eu virtual?, dado que a distância física do ?outro? permite que cada um revele apenas aquilo que pretende mostrar de si mesmo, podendo mesmo (re)construir um ?novo eu?, uma nova personalidade que não é a sua: ?cada um é aquilo que projecta para si mesmo ou o que quer ser?<3>. No entanto, como refere Lídia Silva, ?este cenário, sustentado pela possibilidade de anonimato, faz com que se alterem as noções de intimidade, privacidade, sinceridade, confiança, sexualidade, etc., tendo implicações na organização das subjectividades, especialmente dos jovens e das pessoas com mais tendência a perturbações da personalidade?<4>, isto é, esta forma de relacionamento social virtual altera a noção de cada um relativamente aos relacionamentos sociais em geral, o que pode ter um impacto negativo na vida não-virtual. Dado que o ciberespaço funciona como uma realidade paralela, como uma extensão da vida real, existe uma projecção e materialização destas novas concepções para a vida real. Segundo Adelina Silva, por exemplo, estas comunidades virtuais são ?potenciadoras de uma espécie de desmaterialização das relações sociais convencionais, passando a ser mediatizadas pelo intelecto e imaginário de cada um?<5>. Contudo, parece evidente que cada pessoa tem uma relação diferente com o ciberespaço: há quem opte por utilizar principalmente a sua vertente informativa, há quem o utilize essencialmente para comunicar com os mesmos membros que já pertencem às suas comunidades não-virtuais, há quem use os seus recursos como forma de explorar outro mundo e há ainda quem se deixe levar pelos encantos das comunidades virtuais, com maior ou menos intensidade. Tudo depende da identidade real de cada um. Muitas vezes, associa-se a solidão social à dependência virtual, mas parece-me que todas estas questões só podem ser fielmente respondidas com recurso a estudos científicos. Tirar conclusões precipitadas seria um erro quando existem tantas condicionantes e factores a se ter em conta. Basta lembrar que é de seres humanos que estamos a falar se perceber isso.
<1> TURKLE, Sherry (1989), O Segundo Eu - os computadores e o espírito humano, pp. 14-15. In Lídia Silva, ?Globalização das redes de comunicação: uma reflexão sobre as implicações cognitivas e sociais?, artigo disponível na Biblioteca Online de Ciências da Comunicação; <2> Adelina Silva, ?Mundos Reais, Mundos Virtuais - Os jovens nas salas de chat?, artigo também disponível online na BOCC; <3> Ibidem; <4> Lídia Silva, ?Globalização das redes de comunicação: uma reflexão sobre as implicações cognitivas e sociais?; <5> Adelina Silva, ?Mundos Reais, Mundos Virtuais - Os jovens nas salas de chat?.
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