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A social-democracia como um fenômeno histórico
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?A social-democracia como um fenômeno histórico?, de Adam Przeworski, em sua obra Capitalismo e social-democracia (Cia. das Letras, 1989. p. 19-65), foi escrito antes da derrocada espetacular dos regimes comunistas do Leste Europeu. Apesar desse viés cronológico, esse revisor do marxismo tem uma visão bastante atual, lúcida e elucidativa sobre os desdobramentos do fenômeno socialista. O fio condutor de todo o texto está na primeira frase: ?A escolha crucial foi entre participar ou não?. É como se a análise que esse autor faz do histórico da social-democracia estivesse sob o signo da ?eleição?. De fato, o dilema constrangedor para os partidos socialistas nas proximidades do final do século XIX era se deveriam ou não se utilizar das instituições já existentes na sociedade burguesa da época com fins políticos pragmáticos para a conquista do poder pelo proletariado, através da gradual parlamentarização das ações militantes. Outra questão essencial que se apresentava aos partidos socialistas era se a classe dominante respeitaria a vontade popular mesmo que esta exigisse a abolição de seus privilégios. Depreende-se daí que a dúvida era se os socialistas podiam confiar em alianças e acordos nem sempre apenas com o proletariado, em nome da conquista do poder pela via do sufrágio. Além disso, fica claro que a intenção era utilizar o jogo da democracia representativa burguesa para chegar ao topo e implodir o sistema a partir de suas próprias instâncias. Não é demais fazer um paralelo: esse também foi o dilema enfrrentado pelo PT, principalmente na pessoa do agora presidente Lula. Adam Przeworski traz dados surpreendentes, em minha perspectiva reduzida em torno do marxismo e do socialismo, dos quais destaco dois. O primeiro diz respeito à postura arredia para com as eleições, desde o início do movimento até seu último auge, na década de setenta, na figura, por exemplo, de um Jean-Paul Sartre popular e influente. Uma frase desse filósofo francês socialista é reproduzida, na página 23: ?Eleições, uma armadilha para os tolos?, ainda sob o efeito do ambiente de Paris em 1968. O segundo dado, e este de cunho estatístico exato, é o mais revelador, pois vai de encontro ao senso comum, pelo menos aquele do qual eu comungava até me defrontar com a informação de que, como nos informa Przeworski, a circunstância da condição de minoria diante do prospecto de ser o governo da maioria é a condição histórica sob a qual devem agir os socialistas. Ou ainda a colocação de que o sistema democrático ?pregou uma peça? aos socialistas: a emancipação da classe operária não poderia ser tarefa dos próprios operários se tivesse de se atingida por meio de sufrágio. Qual o dado novo que me surpreende? O fato de o proletariado ser minoria. Sempre mantive uma ?impressão? histórica de que o proletariado, composto por trabalhadores que vendem sua força de trabalho, conforme definição dada por Friedrich Engels, era a maioria da população e, consequentemente, a maioria do eleitorado, ainda mais no contexto europeu, onde as revoluções industriais se iniciaram e primeiro se desenvolveram. Nem na Inglaterra o proletariado chegou a ser maioria. A possível solução seria apelar para a educação das massas, dentro do proletariado ou não, incluindo a crescente classe média, para a causa socialista. No esforço de mobilizar as massas para sua causa, alguns dilemas afligiam os socialistas, pois ao tentarem organizar as massas, perceberam controvérsias internas às classes exploradas. Adam Przeworski conclui seu histórico do dilema socialista, diante das escolhas na seara da democracia representativa, com assertivas sobre o constrangimento dos socialistas com o desenrolar histórico de seu movimento e o resignado pragmatismo diante das evidências. De fato, é o pragmatismo, diante dos obstáculos impostos pela infra-estrutura, que faz com que o movimento socialista sucumba no seio do século XXI à necessidade de condescendência para com a superestrutura que historicamente combateu. Nessas mais de duas décadas após ter escrito seu texto, Adam Przeworski, como nosso companheiro de humanidade ainda vivo, pode ver a social-democracia, em negociações pragmáticas cada vez mais eficazes democraticamente, inclusive no Brasil dos últimos quase vinte anos, crescer em número ao redor do mundo. Mas é claro que a Europa é o exemplo mais animador. Por outro lado, Karl Marx não pode ver as catástrofes feitas em nome de sua teoria contra o próprio proletariado. O Manifesto comunista persistiu sendo negado ao longo do século XX até se tornar um documento histórico datado, apesar de não perder sua relevância como um marco histórico.
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