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Os Caças de Lula
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Os Caças de Lula
O Brasil precisa de armas, disso ninguém duvida. Temos amplas fronteiras que se erguem desde as verdes colunas amazônicas, passando pelas oníricas paisagens pantaneiras indo derramar-se nas bacias sulistas, que exigem a confirmação de dentes de aço bem postados para que bocas estrangeiras não mordam nacos de nossas riquezas. Nosso litoral possui o pré-sal, rico em negro óleo, e temos praias que exigem o zelo constante de muitas e boas naus. É o custo que se paga por ser tão grande, assevera-se. Criado fui, desde o início, sob a vertente de um governo que surrupiou a democracia no intento de defender a nação de um mal maior: o avanço da famigerada sanha comunista que ameaçava avermelhar, de vez, as terras da América Latina. Sempre há um motivo, bom e justo, escondido sob a camada de um véu de fácil pureza, que justifique um mal para fugir a outro maior. O veneno da víbora é seu próprio antídoto, justifica-se assim qualquer intento sob uma desculpa suprema, inquestionável, que leve os opositores a sentirem-se como traidores do bem comum; Pilatos nunca esteve tão vivo. ¨A decisão é política¨, asseverou Lula, ungido pelas bênçãos do voto no posto de Presidente, o qual elogio, nesse momento, pela sua pronta, e nem sempre oportuna, sinceridade. A política, meus caros, essa sim move os interesses que legitimam ao Brasil adquirir 36 belos e possantes caças franceses de pomposo nome: Rafale. Poderei visitá-los, quando quiser, na base aérea de Anápolis que dista pouco mais de 40 Km aqui de casa. Sei que ainda os verei rasgando de branco meu querido seu azul anil, perturbando a paz dos inúmeros anjos a tocar suas cândidas arpas no frescor de nossas nuvens. A transferência de tecnologia foi vital para a concretização do negócio, concordam especialistas no quesito. Como escritor, e cidadão brasileiro, não contesto a necessidade da aquisição. Precisamos de armas, na paz, para nos prevenir contra a guerra, pode-se afirmar. Dessa forma, que os caças, helicópteros e submarinos sejam bem-vindos às terras tupiniquins no caso de serem elementos de prevenção, como a tranca na porta. Demos grande salto desde o uso do tacape até o ponto que hoje alcançamos. Em nossas palmeiras não mais cantará o sabiá, mas sim o ronco de turbinas movidas ao jato de bilhões de dólares. Não conheço o que se passa sob o teto dos gabinetes, e temo vir a sabê-lo, pois acredito que não sobreviveria a tanto asco. Por trás de um grande negócio sempre se digladiam múltiplos interesses. Apenas sei, e nisso vai uma percepção inusitada do cronista, que uma guerra se aproxima da América Latina por simples questão de lógica: é preciso que a indústria armamentista venda, e cresça, e que nossos líderes embolsem gordas somas na comissão paralela que contamina tais orçamentos. O continente possui hoje uma figura interessante, travestida de Presidente da Venezuela, que se tornou pavio de uma corrida armamentista que não desfilava por aqui. O Senhor Chávez é mui conveniente a um cenário de destruição. As guerras sempre fazem a fortuna de poucos, ao custo do sacrifício e da desgraça de populações indefesas. Vejo surgindo na Colômbia uma base americana a defender os interesses ¨humanitários¨ contra o narcotráfico. A IV Frota dos Eua se posiciona no Atlântico Sul ao som da Salsa. Testemunho o Brasil erguendo barricadas e a Venezuela pronta a testar a pontaria dos seus mísseis. Não sei quem dará o primeiro tiro, nem qual será o alvo, ou como se dividirão os contendores; muito menos consigo definir a pretexto de qual causa se dará a peleja, mas tenho certeza de que inventarão alguma. Afirma-se que pelo barulho das rodas de uma carruagem podemos saber quem vem dentro. Escuto as rodas, ouço também o rufar dos tambores e posso praticamente sentir o sorriso dos Senhores da Guerra, felizes, fartos e satisfeitos pelos cofres esplendidamente abarrotados com o fruto dos impostos de nós colhidos, ao grato pretexto de fazer valer a segurança nacional, sendo a paz apenas um inconveniente passageiro...
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