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VAIAS, SILÊNCIO E GRITOS DE DOR


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- Antes de entrar no coro, olhe em volta - aconselhou Luiz Fernando Veríssimo, ao falar
para os que vaiaram o presidente na abertura dos jogos pan-americanos, referindo-se aos que criticam e combatem o governo pelas razões erradas ou pelos mais espúrios motivos. A advertência procede, mas, se cumprida com extremo rigor, pode gerar uma inércia perniciosa, similar à que durante anos impediu que comunistas de boa fé condenassem Stalin e a União Soviética, para não engrossar o coro de direitistas e fascistas. O que não significa que o pessoal que vaiou Lula não tenha olhado em volta antes de aderir ao coro e ter apenas visto uma massa de descontentes com a promíscua relação do presidente com gente da pior espécie. Mais condenável que a vaia foi a deserção presidencial, pois Lula deveria ter cumprido o protocolo, nunca antes desobedecido nas aberturas dos jogos pan-americanos. Seu silêncio, ao não abrir referidos jogos, gerou constrangimento internacional e só foi esquecido, assim como as vaias, quando sobreveio outro silêncio, ainda mais constrangedor, na noite em que o avião da TAM explodiu em Congonhas. Nas 72 horas que se seguiram à maior tragédia aérea de nossa história, o presidente não deu as caras na TV, nem pronunciamento pelo rádio fez. Mesmo desconhecendo detalhes do ocorrido, deveria ter pensado na força simbólica do cargo que ocupa, agindo diferentemente dos governantes que nos trágicos acontecimentos acontecidos em Nova York, Paris, Madri, apareceram prontamente para prestar solidariedade às vítimas e seus parentes. Até mesmo Bush visitou o campus de Virgínia Tech para confortar os sobreviventes de uma chacina lá ocorrida. No dia seguinte à explosão do avião da TAM Lula ainda não se comunicara com o governador nem com o prefeito de São Paulo. Foi uma semana de vaias, silêncios e gritos de dor. E assim terminaria se o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, não lhe tivesse acrescentado um novo elemento, complementar ao silêncio: ao se alegrar quando soube que o defeito poderia estar no avião que explodiu e não na pista do aeroporto e, então, acreditando que o governo estaria isento de culpa, fez um gesto que traduz o mais brasileiro dos insultos obscenos, acompanhado por outros gestos, também indecentes, de Bruno Gaspar,seu assessor de imprensa. Ainda bem que não atribuíram o que em nossos céus e aeroportos vem ocorrendo a forças sobrenaturais.



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