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Página Principal : História
ZUMBI DOS PALMARES
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QUANDO TUDO ACONTECEU... c.1600: Negros fugidos ao trabalho escravo nos engenhos de açúcar de Pernambuco, fundam na serra da Barriga o quilombo de Palmares; a população não pára de aumentar, chegarão a ser 30 mil; para os escravos, Palmares é a Terra da Promissão. - 1630: Os holandeses invadem o Nordeste brasileiro. - 1644: Tal como antes falharam os portugueses, os holandeses falham a tentativa de aniquilar o quilombo de Palmares. - 1654: Os portugueses expulsam os holandeses do Nordeste brasileiro. - 1655: Nasce Zumbi, num dos mocambos de Palmares - 1662 (?): Criança ainda, Zumbi é aprisionado por soldados e dado ao padre António Melo; será baptizado com o nome de Francisco, irá ajudar à missa e estudar português e latim. - 1670: Zumbi foge, regressa a Palmares. - 1675: Na luta contra os soldados portugueses comandados pelo Sargento-mor Manuel Lopes, Zumbi revela-se grande guerreiro e organizador militar. - 1678: A Pedro de Almeida, Governador da capitania de Pernambuco, mais interessa a submissão do que a destruição de Palmares; ao chefe Ganga Zumba propõe a paz e a alforria para todos os quilombolas; Ganga Zumba aceita; Zumbi é contra, não admite que uns negros sejam libertos e outros continuem escravos. - 1680: Zumbi impera em Palmares e comanda a resistência contra as tropas portuguesas. - 1694: Apoiados pela artilharia, Domingos Jorge Velho e Vieira de Mello comandam o ataque final contra a Cerca do Macaco, principal mocambo de Palmares; embora ferido, Zumbi consegue fugir. - 1695, 20 de Novembro: Denunciado por um antigo companheiro, Zumbi é localizado, preso e degolado.
CANDOMBLÉ
De Lisboa para o Rio de Janeiro antes que a PIDE me deitasse a mão... Ali faço boa amizade com o Ricardo, homem bem mais velho do que eu, mulato não muito escuro. Economista, tem um bom emprego no Banco do Brasil. Mas nunca é promovido. Os seus colegas brancos, que tinham entrado ao mesmo tempo do que ele, já ganham o dobro do seu salário. Diz-me: - Portuga: sou branco de menos para chefiar e branco de mais para fazer limpeza. Até entendo a Administração do Banco: preto, se não caga na entrada, com certeza caga na saída... Ele a dizer-me isto e eu a pensar na Casa Grande e Senzala do Gilberto Freire. Sociologia? Talvez melaço, isso sim! A disposição do português para fornicar todas as mulheres, qual seja a cor que tiverem, isso não é democracia racial, é fúria genital. E parem lá de me salpicar com o luso-tropicalismo para adoçar a pastilha... Palmadinhas nas costas mas fica aí no teu lugar, escraviza muito mais do que murros, palmatórias, chicotes, ou grilhetas. Em 1884 ocorre a Conferência de Berlim para a partilha da África pela potências europeias, fronteiras a régua e esquadro a cortar povos ao meio. Para os diplomatas, "tribos" é igual a "coisas". Ingleses, franceses, belgas e alemães usam realmente os pretos como "coisas". E com "coisas" não há trato, arrumam-se aqui, consomem-se ali, deitam-se fora quando se estragam. Já os portugueses tratam os pretos como homens, porém inferiores, eu aqui em cima, tu aí em baixo, estás a perceber ó escarumba? Palmadinhas nas costas, vai à vida e não te queixes, quem não trabuca não manduca... "Assimilados, portugueses de segunda", é justamente como Salazar chama aos pretos. É mútua a simpatia entre Gilberto e Salazar. Está-se a ver porquê... Venho de um país em que a Igreja é o grande sustentáculo do fascismo. O que me seduz em Ricardo é o escárnio permanente que ele faz da Bíblia: - Para o asno forragem, chicote e carga; para o servo pão, castigo e trabalho, diz a Bíblia, ou dizem os seus pregadores. Portuga: a Bíblia tem feição de senhor de escravos... Ó se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus, e à sua Santíssima Mãe por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre!, prega um pregador famoso. Portuga: a Bíblia tem palavras de feitor... Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, é Jesus Cristo, dizem outros; exorcizam os orixás como espíritos do Inferno e tratam de excomungar os seus fiéis e seguidores. Portuga: a Bíblia tem maneiras de inquisidor... Antigamente só padres brancos é que podiam explicar a Bíblia ao povo negro e bem sabemos o que foi essa explicação. Portuga, é como te digo: a Bíblia tem focinho de homem branco... Corrijo: - Focinho de opressor, isso sim! - Portuga: para nós, opressor e branco são sinónimos. - Crioulo: para nós, em Portugal, opressor é quem oprime, seja branco, seja preto. Então conto-lhe dos meus amigos em Lisboa. Entre eles, dois negros. Um, o Agostinho Neto, é a sisudez aguerrida; virá a ser o primeiro presidente de Angola. O outro, o Amílcar Cabral, é a alegria militante; não verá a independência da sua Guiné-Bissau, será assassinado antes. O mais subversivo, o mais perigoso, o que mais assusta os opressores é a alegria contestatária, cuidam sempre de visá-la e abatê-la; perguntem ao Samora Machel se estou errado... Bem sei que estou a atafulhar conhecimentos adquiridos em épocas sucessivas. Explica-se: estava, ou estou, ou estarei a ser laçado por um nó do tempo, ali tudo a acontecer no agora, o que foi, o que é, e o que será. Ricardo aponta-me um contínuo do Banco do Brasil: é o Zé Pelintra, negro talhado em mogno, fraca figura, apagado, tímido, modesto. No terreiro do candomblé, quando nele baixa Ogum, o seu orixá, transforma-se num tipo dominador e combativo. Interrompo: - Ogum é São Jorge, não é? Ricardo irrita-se: - Nesse jacutá, Ogum é Ogum, não é São Jorge; Iansã é Iansã, não é Santa Bárbara; Xangô é Xangô, não é São Jerónimo; Oxalá é Oxalá, não é Jesus Cristo. Ali não há mixórdia, é tudo autêntico, sem carnaval para turista ver. Não é seita, é religião de oprimido. Entendes, ó Portuga? Entendo, mas quero ver. Ele hesita. Naquele jacutá só vai preto. E o pessoal ficaria renitente, ou mesmo desconfiado, com a presença de um branco. Não perco a oportunidade para malhar: - Como é, Ricardo? Vocês agora andam a trabalhar com negativos do racismo? Decide-se, leva-me. É a noite de 19 de Novembro, disso me lembro. Realmente sou olhado com desconfiança. Alguns até bufam, rosnam, hostilidade. Rufar ritmado de atabaques. Babalorixás e Ialorixás, sacerdotes e sacerdotisas entoam cânticos, alaluê, alaluá, não sei que mais numa língua ou dialecto africano. Zé Pelintra cai em transe, espuma, treme, cai no chão, esperneia. Logo se levanta e realmente mudou de personalidade, os seus olhos até chispam, saravá! baixou Ogum. Sempre a comandar, aconselha e ampara os seus fiéis, alguns dos quais também caiem em transe ao contacto das suas mãos. De repente olha para mim, aponta: - Ocê num tá creditando, num é? Abano a cabeça. Insiste: - Vê prá crê, cumo São Tomé, num é? Vosmecê num qué tomá uma cerveja? - Vinho, se houver. De preferência tinto. - Essa é bebida de Xangô, que é seu orixá, tou vendo. Vamo chamá... Aproxima-se de mim. Impõe as suas mãos sobre a minha testa. Apago-me. Quando torno a mim, já é dia 20. Fremem os atabaque e o povo canta: - Zumbi, Zumbi, oia Zumbi! Oia Zumbi mochicongo. Oia Zumbi!
CANAVIAIS
Madrugada no terreiro, flores já murchas pelo chão. Ogum retirou-se. Sobrou o Zé Pelintra, fraca figura, outra vez a timidez subiu à tona. Ricardo diz-me que, apesar de branco, Axé, a força viva de Deus, manifestara-se e
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